Desde pequena tive uma relação muito particular com a realidade. Não menos particular da sua maneira de se relacionar com a realidade, mas a partir da minha individualidade, tento contribuir para uma compreensão da sua, e vice-versa.
A tentativa da compreensão do VICE-VERSA foi o que me trouxe até aqui. O sentido dessa palavra representa a síntese da representação do que venho trazer. Vice, do latim, significa volta, mudança, já a palavra versa é particípio do passado de vertere (virar-virado), que se faz volta ao voltar – a ação em si, um movimento eterno de idas e vindas de uma unidade numa expansão de possibilidades a serem criadas e experienciadas ao longo de uma ideia de estrutura material – essa que se dá por sua localização do tempo, que fornece manutenção à estrutura de narrativa que estamos inseridos.
O sentido virado em si, esse movimento eterno que venho a chamar de energia CINE-ÉTICA, onde a ética e a ilusão andam juntas – uma singularidade que se busca do ser conduz o movimento da matriz da existência.
Essa matriz que me refiro, é a constituição coletiva do que chamamos de realidade. A realidade seria uma realização do único (o tudo e o nada) que se reconhece a partir daquilo que não se é, então se passa a ser.
A posição dos nossos olhos talvez seja uma das representações mais simbólicas, estão posicionados para ver o externo. Quando abrimos os olhos ao nascer, nossa primeira percepção nos mostra tudo que podemos ser, todas as possibilidades estão ali representadas em partes do que simplesmente já se é. O sempre Admirável Mundo Novo.
E foi assim que comecei a interpretar o mundo, a partir da inversão das informações recebidas, o que via, o que sentia, o que - e como - queria. Extrapolando os entendimentos das possibilidades da identidade – indo e vindo em um tempo constituído através de desejos, aprendendo e desaprendendo, em um processo que sempre me pareceu infinito, porém minha presença nunca era mais que uma mera intermediária entre coisas e possibilidades.
Logo adiante, esse leque de possibilidades - e ter que me definir como algo, alguém - acabou se transformando em um conflito, conflito esse necessário em todas as narrativas para que haja uma modificação. De alguma forma reforçavam uma ideia de regressão, ou de não compatibilidade com a vida, por uma sensação que parte do sentimento de impotência. Então percebi que o sentido só se dá quando se faz as escolhas, não basta transitar por elas. Processo esse longo para entender que as realidades - interna e externa - são complementares, e assim como estar ou não estar, são simplesmente escolhas.
E essas escolhas se dão a partir de afirmações, essas que considero como a polaridade única de existência. Tudo já é, o ‘não’ ser seria uma subdivisão do que é, então o negativo não existe de fato, porque ele aparece como o que gera o movimento. Tudo seria o positivo, afirmações, o negativo vem para que gere – uma nova potência afirmativa.
Pensamos na lógica como definitiva, porém a lógica é transitória e ela deveria ser aprendida não para ser afirmada, mas para poder ser desfeita.
