Houve um dia em que queria experimentar de tudo. O mundo em um mistério fascinante, e minha curiosidade corria solta como um rio sem margens. Mas, à medida que crescia, algo mudou. As palavras entre as pessoas me pareciam difíceis, os gestos indecifráveis. Pouco a pouco, fui me afastando da experiência social e me aproximando do céu, da natureza, dos fluxos e dos animais.
No farfalhar das folhas, encontrei segredos que ninguém me dizia. Nos olhos brilhantes de um gato, vi perguntas mais honestas do que qualquer conversa. Nos átomos invisíveis, imaginei a dança da vida acontecendo sem precisar de palavras. E assim, fiz da natureza meu refúgio.
Até o dia em que mudei o olhar.
Não sei explicar por quê. Talvez fosse o vento soprando diferente ou o silêncio que se formou ao redor. Mas, pela primeira vez em muito tempo, ousei erguer o olhar e encontrar outro olhar humano. E ali, naquele instante, vi algo familiar. Uma centelha da mesma natureza.
Foi como abrir uma janela para um mundo que eu não sabia que existia. Havia rios correndo naqueles olhos, tempestades guardadas, florestas inteiras crescendo em silêncio. Desde então, nunca mais parei de olhar.
